Vazamento oculto: inimigo silencioso que gera prejuízo
Vazamentos ocultos nas instalações hidráulicas geram desde fissuras e desabamentos em edifícios, até grande aumento na conta de água. Foi o que aconteceu com a aposentada Aurea Inês Rodrigues, 62, de Limeira, no começo de dezembro de 2017. “Eu estava varrendo a calçada e o hidrômetro estava girando. Fui onde guardo as contas e vi a leitura anterior e tinha dado 23 metros cúbicos”, relembra.
O consumo relatado por ela já atingia, portanto, o volume esperado para pelo menos três pessoas (veja quadro abaixo). Em sua casa, que tem apenas dois moradores, a média de consumo costumava ser de 8 m³.
Das redes da rua até os cavaletes dos imóveis, os prestadores de serviços de saneamento básico de cada município são responsáveis pelo reparo de vazamentos. A partir do interior das casas, porém, a Resolução 50 da Agência Reguladora ARES-PCJ prevê que é de responsabilidade do usuário realizar a manutenção e garantir a segurança de suas instalações internas. Apesar disso, algumas cidades oferecem descontos ou parcelamentos na conta após comprovado o conserto de um vazamento oculto.
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Estimativa de uso de água - folder de consumo sustentável desenvolvido pelo Conselho de Regulação e Controle Social de Campinas e distribuído pela ARES-PCJ.
Nesses casos, com frequência é necessário contar com o trabalho de um profissional. Com trinta anos de profissão como caça-vazamentos, o técnico em manutenção Celso Alves de Oliveira, 50, foi quem descobriu o problema no imóvel. “Eles (clientes) dizem que não têm vazamentos porque não veem umidade nas paredes”, diz ele. Por isso sempre causa surpresa quando, pelo ruído, Celso encontra o ponto exato da fuga de água. A procura leva de dez a 30 minutos por meio do uso do geofone, aparelho capaz de “escutar” os vazamentos.
Para Marcelo Bacchi, engenheiro civil e analista de fiscalização na ARES-PCJ, a água é o maior inimigo do alicerce. Mas, segundo ele, apesar dos riscos da infiltração, os vazamentos frequentemente dão avisos. “Aconteceu na minha casa, o encanador esqueceu de fazer a colagem das conexões e só fez o encaixe. Aí ficou vazando, eu fui perceber pelo barulho”, lembra ao contar da perda de cerca de 300m³ de água em uma semana.
Os principais pontos de vazamentos visíveis ocorrem no banheiro, cozinha e lavanderia. Já os ocultos, com frequência acontecem na tubulação que alimenta a caixa d’água, principalmente se for antiga, de ferro, e nas conexões que são curvas. A boia da caixa d’água é outro ponto comum. Se não for de qualidade, a caixa enche e a água transborda pelo ladrão, podendo cair na calha e sair para a rua, segundo Marcelo. Sem atenção, essa perda de água passa despercebida e continua sendo cobrada na conta.
“Eu diria que o maior de todos é o risco de perda de água, e isso acarreta impacto ambiental e financeiro”, avalia Edilincon Martins de Albuquerque, que também é engenheiro civil e analista na ARES-PCJ. Para ele, vazamentos podem ser evitados desde o planejamento da construção, com testes preventivos, e também realizando manutenção contínua, ou seja, quando o usuário faz uso correto dos materiais e se atenta ao seu desgaste natural, trocando por novos quando necessário.
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Os caçadores da vanguarda Imagine uma situação em que você está com dúvida se está chovendo quando vai sair de casa. Para descobrir, você estica a mão para fora da área coberta para sentir as gotas da chuva. Há mais ou menos 20 anos, a procura por vazamentos era bem parecida com isso. Nessa época, era por meio da furação que os encanadores buscavam vazamentos, segundo o técnico em manutenção e caça-vazamentos Celso Alves de Oliveira. Para isso, usava-se uma haste de ferro nas aberturas criadas para verificar se ela ficava úmida. Em caso positivo, estava localizado o vazamento. Exaustiva e demorada, em alguns casos a procura levava até uma semana para localizar o ponto em que a água saía, causando danos como quebra de paredes. “Não sabia se era o vazamento ou o cano que eu furei”, explica. Com o tempo, o estetoscópio passou a ser usado para ouvir os vazamentos. Porém, para esse tipo de uso seu alcance era pequeno, não passando de um metro de profundidade. Depois dele, surgiu o geofone, aparelho empregado para escutar a fuga de água atualmente, e que facilitou a busca pelo ponto exato do vazamento nos imóveis. |