Carlos Roberto Belani Gravina: Um Legado de Dedicação à ARES-PCJ

Após 14 anos de dedicação ininterrupta, a Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (ARES-PCJ) celebra a trajetória de Carlos Roberto Belani Gravina, seu diretor técnico operacional. Gravina se despede da Agência, marcando o fim de um ciclo de sete mandatos à frente da diretoria e partindo para novos desafios, e um merecido período de descanso e desaceleração. Sua contribuição é reconhecida como um inestimável legado de aprendizado, experiência e conhecimento no saneamento básico.

 

 

A jornada de Carlos Gravina na ARES-PCJ começou em 1º de novembro de 2011, após sua indicação ser aprovada na primeira Assembleia Geral Ordinária da Agência. Ele foi o primeiro funcionário a ser contratado, assumindo a diretoria técnica. A ARES-PCJ foi instalada oficialmente em maio de 2011, tendo sido idealizada por Dalto Favero Brochi e Carlos Roberto de Oliveira, que sugeriram ao presidente da ARES-PCJ a vinda de Carlos Gravina para comandar a área técnica.

 

 

Ainda em suas primeiras semanas, Gravina vivenciou os desafios iniciais de uma agência em formação. A sede provisória, localizada no Consórcio PCJ, era uma sala que funcionava como arquivo morto e precisava de limpeza e arrumação. Um dos fatos marcantes de sua chegada, que se tornou uma anedota na Agência, é que Gravina, antes mesmo de iniciar formalmente suas atividades, tirou férias, já que era necessário cumprir esta formalidade ao se desligar de seu trabalho anterior. Ao retornar, juntou-se ao Dalto em uma faxina geral na sala, equipados com vassoura, rodo, balde e sabão, para torná-la apta ao trabalho. Esse episódio já demonstrava seu comprometimento desde o primeiro dia.

 

 

Com mais de três décadas de serviços prestados no saneamento básico, Gravina trouxe uma experiência ímpar para a ARES-PCJ. Engenheiro mecânico de formação, ele trabalhou tanto no serviço público quanto na iniciativa privada. Sua trajetória inclui 23 anos na construtora CBPO, onde atuou em grandes projetos de infraestrutura como a Rodovia dos Imigrantes e a usina de Itaipu. Foi na CBPO, em parceria com uma empresa francesa, que Gravina participou do estudo e da estruturação da primeira concessão de água e esgoto do Brasil, em Limeira, na década de 1990.

 

 

Antes de chegar à ARES-PCJ, Gravina foi superintendente do Serviço de Água e Esgoto de Atibaia (SAAE Atibaia), onde trabalhou por oito anos, implementando reestruturações e vivenciando as particularidades do serviço público. Essa vivência foi crucial para identificar as lacunas e desafios do saneamento brasileiro.

 

 

No dia a dia da ARES-PCJ, Carlos Gravina se destacou por sua forma de pensar, referida por seus colegas como um "tiro de sniper”.  Segundo Dalto Favero Brochi, diretor geral da ARES-PCJ, “Gravina tinha o hábito de ser o último a se pronunciar em discussões, ouvindo todas as visões, extraindo uma linha de raciocínio ponderada e precisa."

 

 

A experiência de Carlos Gravina extrapolava as fronteiras nacionais. Uma de suas histórias mais marcantes envolve um encontro com Nelly Olin, então Ministra do Meio Ambiente da França, durante visita de delegação brasileira de saneamento na feira Pollutec, em Lyon, no ano de 2006. A Ministra, em um gesto inesperado, quebrou o protocolo e o chamou para conversar no meio do evento, e posteriormente para sentar-se ao seu lado em um almoço de confraternização. Esse evento ilustra a figura marcante que Gravina sempre representou no cenário do saneamento.

 

Reunião com Nelly Olin, Ministra do Meio Ambiente da França, 2006

 

 

Ao entrar na ARES-PCJ, Gravina constatou que a realidade da regulação do saneamento estava longe do que imaginava. Ele percebeu a necessidade de organizar o setor, identificando as "não conformidades" — irregularidades que iam desde a falta de extintores de incêndio e guarda-corpos em estações de tratamento até a ausência de cadastros de tubulações. Gravina foi fundamental na elaboração das primeiras resoluções da Agência, como a Resolução ARES-PCJ n° 001/2011, sobre Conselhos de Regulação e Controle Social. Para Carlos Gravina a evolução dos pareceres consolidados, referentes aos reajustes e revisões tarifárias, foi notável, “Passando de poucas páginas para documentos complexos de 60 a 70 páginas”, comentou refletindo a crescente expertise da Agência.

 

 

Segundo Gravina as resoluções de caráter e abrangência geral eram sempre construídas "a quatro mãos", em reuniões com os prestadores de serviço, sem imposição, para garantir adesão e efetividade. Em seus anos de gestão, o sistema de penalidades por não conformidades, estabelecido pela Resolução ARES-PCJ n° 71/2014, focava no elementar, garantindo que falhas básicas de segurança e operação fossem corrigidas pelos prestadores de serviço.

 

 

 

A frente de seu tempo, Gravina já defendia, em 2015, a necessidade de um órgão nacional que estabelecesse um padrão único para o saneamento no país, uma ideia que se concretizou com as novas atribuições dadas à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em 2020, por ocasião do novo marco do saneamento, com a Lei  n° 14.026/2020. Gravina compreendia a complexidade dessa questão para o país, e via a padronização como essencial para o avanço do setor.

 

 

Entre os obstáculos superados por Gravina estão a implantação de sistemas de monitoramento de água e esgoto, o desenvolvimento de metodologias tarifárias e a adaptação às constantes mudanças na legislação federal. Ele conduziu equipes em momentos de restrição orçamentária e complexidade técnica, sempre mantendo o foco na transparência e no serviço à sociedade. Segundo seu colega, o diretor administrativo-financeiro da ARES-PCJ, Carlos Roberto de Oliveira, “Gravina foi a ponte que nos permitiu ir do sonho à prática. Seu rigor técnico e sua habilidade para dialogar com os municípios foram decisivos para construirmos a Agência que temos hoje”.

 

 

Os desafios do saneamento no Brasil, como as perdas de água e a falta de investimentos, sempre foram uma preocupação de Gravina, que viu na regulação um caminho para direcionar recursos e exigir melhorias. A visão da ARES-PCJ, defendida por Gravina, era de focar em saneamento — água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos —, garantindo uma atuação mais eficaz e especializada.

 

 

Um dos últimos e mais importantes compromissos de Gravina como diretor técnico-operacional foi uma reunião com a Secretária Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Natália Resende, em uma reunião marcante para o futuro da Agência. “Na política estadual para cumprimento das metas de universalização, a ARES-PCJ tem a possibilidade de dobrar o número de municípios regulados em 2026, chegando a cerca de 150 cidades” explica Gravina sobre o crescimento previsto da Agência.

 

 

Carlos Gravina deixa a ARES-PCJ com a satisfação do dever cumprido. Ele expressa confiança em seu sucessor, Rodrigo Leitão “Que é experiente e engajado, e que dará continuidade ao trabalho, implementando novas mudanças”, comenta Gravina.

 

 

A despedida de Carlos Roberto Belani Gravina não é um ponto final, mas um marco na história da ARES-PCJ. Seu legado de dedicação, visão estratégica e comprometimento com a qualidade dos serviços de saneamento continuará a guiar os próximos passos da Agência, que se prepara para novos e grandiosos desafios, impulsionada pelos pilares que ele ajudou a construir.